A vida de um atleta olímpico é, indiferente de modalidade, árdua. Rotina de treinos, abdicações da vida pessoal e dedicação – somados ao sonho de chegar “lá” formam a receita básica. Tem dificuldade no meio. Uns mais que outros. É o caso da amazonense Lucianne Barroncas, integrante da seleção brasileira de polo aquático, que fechou o Pan com medalha de bronze.
Nascida em Manaus, desde nova Lucianne teve que superar barreiras físicas para trilhar o caminho do esporte profissional. A amazonense, que cresceu dentro das piscinas, sofre com alergia a cloro. Não bastasse a ironia, a atleta da seleção brasileira tem 70% da sua capacidade respiratória comprometida. Para completar, sofre com longo histórico de artrite
Contrariando todas as estatísticas, a atacante manteve o foco. Antes de chegar ao polo foi grande medalhista na natação. Com a dificuldade de viver do esporte no Amazonas, Lu foi para Brasília, trabalhar com educação física. Na capital federal, teve o primeiro encontro com o esporte que, nesta terça-feira, lhe rendeu uma medalha de bronze dos Jogos Pan-Americanos. Quem narra a história é dona Rosy Ane Barroncas, uma mãe coruja de primeira mão.
– A Lu começou na natação com oito meses. Teve otite e eu tirei. Pouco tempo depois começou a apresentar muitos problemas respiratórios. Tinha rinite, asma, andava com bombinha – e anda até hoje. O médico dela então recomendou que ela fizesse natação para melhorar. Com uns oito anos começou a praticar de verdade, e desde lá nunca mais parou, nem de nadar, nem de dar susto na gente.
Susto? Susto. Dona Rosy conta que a filha sempre teve que superar as doenças e lesões. E foram algumas colecionadas ao longo dos anos. “Ano passado mesmo, passou uns dias internada na UTI”, conta, hoje, aos risos.
– Desde pequenininha ela deu susto na gente. Com quatro meses de idade quebrou a clavícula. Nos esportes, adorava futebol, handebol e vôlei. Os médicos proibiram porque ela tinha problema no joelho e não aguentaria. Na natação era uma época tranquila. Até ela descobrir o polo aquático. Desde lá… É lesão aqui e lá. E a bichinha não deixa se abater não. Recupera e volta sempre melhor. Nem deixa a gente se preocupar – relembra, aos risos.
Lu, inclusive, fez o último jogo do Pan – a vitória de 9 a 6 diante de Cuba – com dois dedos da mão direita machucados.
– Queria mudar o nome dela para superação, porque olha… É a Dona Superação.
E isso é o de menos. A mãe garante que dificuldade mesmo foi a mesma enfrentada pela maioria esmagadora de atletas no Brasil: a falta de apoio. Quando Lucianne deixou Manaus pela primeira vez foi porque não tinha condições de seguir no esporte. De lá, passou alguns maus bocados em busca de patrocínio.
– Era tudo muito difícil, porque a gente não conseguia arcar com os gastos e o Governo não ajudava. Quando ela tinha uns 16/17 anos, teve um brasileiro que seria decisivo para ela conquistar uma bolsa em algum lugar fora de Manaus. Nas vésperas da viagem o Governo anunciou que não daria as passagens. Ela sofreu muito. Não só dessa vez, mas em várias outras situações do tipo. Hoje Lucianne, por integrar a seleção brasileira, recebe o apoio do Governo Federal pelo programa do Bolsa atleta e tem o apoio do clube Pinheiros, pelo qual joga.
Passadas as dificuldades e com a ansiedade para pendurar mais uma medalha no quadro de medalhas que cultiva com orgulho, Dona Rosy fala do orgulho que sente pela filha. A saudade, no entanto, ainda vai demorar um tempinho para matar. Isso porque Lu segue do Canadá direto para Kazan, na Rússia, onde disputará o Mundial de Esportes Aquáticos.
Fonte; Globo.com