No dia 11 de novembro – caso não aconteçam mais reviravoltas na justiça -, os sócios do Vasco elegerão o novo presidente do clube. Por isso, o Caldeirão Cruz-Maltino resolveu conversar com os candidatos que seguem no pleito, fazendo três perguntas sobre temas importantes: dívida, futebol e São Januário.
Todos as perguntas foram enviadas simultaneamente aos candidatos e nenhum deles teve acesso às respostas de qualquer outro concorrente.
Participaram da entrevista Eduardo Nery (Vasco Mais que um Gigante), Júlio Brant (Sempre Vasco), Márcio Santos (Vanguarda Vascaína) e Roberto Monteiro (Identidade Vasco). O candidato Eurico Miranda não quis responder às perguntas.
Segundo dados da Pluri Consultoria, o endividamento líquido do clube superou a barreira dos R$ 500 milhões, subindo mais de 50% em cinco anos. Como reverter esse quadro?
Eduardo Nery Se o Vasco fosse uma empresa, já teria falido. Quem tem receita de R$ 160 milhões e dívida acima de R$ 500 milhões não se sustenta por dois anos. A divulgação dos balancetes trimestrais é muito importante para que possamos acompanhar os indicadores financeiros e fazer as mudanças necessárias durante o ano. Temos, porém, uma força extraordinária que foi muito mal utilizada nos últimos anos: nossos torcedores que podem colaborar e muito com o crescimento do clube. Só que, para isso, eles precisam acreditar em um plano que gere benefícios diretos, como desconto na aquisição de produtos, tem que ser um jogo de ganha-ganha, o modelo atual é ganha-perde, pois o sócio não vê benefícios. O modelo deve ser o Benfica, que fatura anualmente aproximadamente R$ 90 milhões, enquanto o Vasco fatura R$ 3 milhões. Os esportes olímpicos terão um CNPJ próprio, que permitirá a implantação de um modelo sustentável e independente do futebol. Utilizaremos as leis de beneficio fiscal, Lei de Incentivo ao Esporte, estaremos mais próximos da Confederação Brasileira de Clubes. Sustentabilidade será a palavra chave nos esportes olímpicos. É fundamental que se crie um Comitê de Renegociação das Dívidas, para que possamos entender qual a origem de cada uma das dívidas, e que ele negocie com os credores e trace planos para pagamento. A Central de Compras fará todo o processo de aquisições de bens e serviços através de processos licitatórios na modalidade de pregão baseado em requisitos mínimos.
Júlio Brant A primeira coisa que a gente fez como trabalho foi a criação do comitê gestor da dívida, que criamos há mais de três meses e já vem trabalhando diretamente e diariamente para tratar essa questão, com informações que vêm do Vasco, para assim que a gente entrar no clube, já começarmos a tomar medidas para reduzir a dívida, melhorar o perfil da dívida e, consequentemente, melhorar o fluxo de caixa do clube.
Márcio Santos A gestão Roberto Dinamite conseguiu avanços no aspecto de ampliação de receitas, porém, houve um significativo aumento de despesas, algumas delas inúteis ou excessivas. Aliás, aumentar as receitas e ampliar ainda mais as despesas são um retrocesso econômico-financeiro e um passo decisivo para adentrarmos um processo falimentar. Há que se fazer uma ampliação da receita especialmente pela participação e adesão de novos sócios ao plano que criaremos com contrapartidas significativas e pouco onerosas ao clube. O resgate dos inadimplentes também será uma prioridade nossa, no sentido de motivá-los no retorno contributivo ao Vasco. Só vamos conseguir um caminho de diminuição do passivo do Vasco sendo mais criteriosos nos contratos que assinamos e fechando as torneiras de desperdício financeiro que consomem boa parte dos recursos, que poderiam ser utilizados na quitação das mesmas e até na qualificação do nosso elenco de futebol profissional. Uma crescente ampliação de receitas em vários segmentos é outra meta nossa, que possibilitará termos uma saúde financeira que inicie um processo de diminuição do grau de endividamento do clube.
Roberto Monteiro A palavra chave é profissionalização. As dívidas do clube já estão próximas de R$ 600 milhões, contando obrigações trabalhistas e previdenciárias, débito com fornecedores, etc. Por isso, é preciso um diagnóstico preciso do quadro financeiro para adotar medidas de adequação orçamentária e patrimonial. A solução é integrar o clube como um todo, através do planejamento estratégico. Vamos rediscutir as cotas de TV. Queremos renegociar os valores e prazos de pagamento. Também vamos criar metas de gestão para equilibrar as finanças.
Na última década, o Vasco conquistou apenas um título de expressão e foi rebaixado duas vezes. O candidato pode garantir que em seu mandato os resultados esportivos serão melhores?
Eduardo Nery Com certeza! O livro “A Bola não entra por acaso” conta a história recente do Barcelona e comprova que a administração do clube é fator primordial para que a equipe renda em campo. Não podemos admitir que nosso elenco seja composto por forasteiros, que a qualquer momento podem nos deixar. O Vasco sempre foi formador de atletas, ao menos 40% do elenco tem que ser de atletas da base, e de quem o clube tenha mais de 50% dos direitos federativos. Outro fator importante é a questão dos salários, pois é inadmissível o que tem sido pago a alguns atletas. Faremos uma mudança radical no formato de negociação, os salários serão menores, porém os bônus por metas serão diferenciados. Os atletas têm que entender o que é o Vasco, se não entenderem não podem nem passar perto de São Januário. Outro fator fundamental é a relação com a federação do Rio, que tem desrespeitado o Vasco. Mudaremos isso de imediato, o Vasco não pode ser humilhado. Vamos bater na mesa e exigir respeito, se isso não acontecer vamos fomentar a criação de uma liga. Jogar em outros Estados também deve ser uma opção. Um clube com milhões de torcedores não pode se deixar abater por uma federação que nos prejudica.
Júlio Brant Não se pode desvencilhar futebol de gestão. São duas partes do mesmo corpo, não adianta ter um timaço e uma gestão caótica. As coisas não funcionam dessa maneira, não no futebol do século 21. A primeira coisa que a gente tem que fazer é arrumar a casa. Estamos criando um modelo novo de gestão do futebol, consequentemente, vamos rever o elenco atual do Vasco, com isso tentando trazer para o futebol a mesma excelência que vamos trazer para a gestão. Com relação a base, vamos dar foco total, com total integração com o profissional. A gente entende que é na base que vamos criar um modelo de jogar. Este é um dos nossos objetivos: criar um Modelo Vasco de jogar.
Márcio Santos Costumo chamar o
período de 2001 a 2014 de década e meia perdida, em que poucas foram as conquistas, alegrias e avanços. Ambos os rebaixamentos poderiam ter sido evitados. O maior problema é haver um erro, não reconhecê-lo e não corrigi-lo. E esse foi um dos motivos – com fragilidade do elenco em algumas posições, comando administrativo no futebol profissional inepto – que nos conduziram à disputa de Série B. Quanto a resultados esportivos, primeiro quero registrar que os esportes olímpicos e paralímpicos serão geridos com recursos próprios, ou seja, teremos um departamento de marketing que finalmente atuará em busca de patrocinadores, para que possam ser autossustentáveis. Com relação ao futebol profissional, buscaremos a formação de uma equipe com qualidade, com premiações por metas alcançadas. Não mediremos esforços em busca do Vasco ser protagonista de todas as competições que disputar. Quanto a prometer títulos, o que posso garantir é que estaremos disputando-os com grandes chances de conquista. Nossa meta será a conquista de um título estadual, um nacional e outro internacional no próximo mandato. É fundamental um elenco de até 35 atletas, sendo que pelo menos um terço deles seja oriundo das nossas divisões de base.
Roberto Monteiro O Vasco vive hoje a pior crise em 116 anos de história. O rebaixamento e a falta de títulos são reflexos de um clube sem rumo, sem comando, sem perspectiva. A atual diretoria tem sido desastrosa em todos os sentidos: dívidas astronômicas, salários em atraso e contratos que só trazem prejuízo. Não dá mais para sustentar essa situação de descalabro. Chegou a hora de virar essa página. Precisamos de um Vasco para todos. Mudar sem retroceder. Quero resgatar o orgulho de ser vascaíno, com uma gestão séria e profissional. Os resultados no esporte estão diretamente ligados a uma administração séria, competente e comprometida. Vencer não é tarefa apenas do time ou do técnico. É um trabalho de base, que envolve a preparação de atletas de alto nível, com salários adequados, finanças em ordem e uma boa estrutura de treinamento. Em nossa gestão, vamos construir um centro de excelência em Vargem Grande para treinamento dos nossos jogadores. O centro vai ocupar terreno de 58 mil metros quadrados, cedido pela Prefeitura. O projeto é viável, sim: ele será iniciado e concluído na nossa gestão. A exemplo de São Januário, os recursos para financiar o centro de excelência serão obtidos junto aos sócios. Também faremos um centro de excelência para a natação. Esse projeto estruturante é fundamental para os resultados em campo. Precisamos de ousadia sem irresponsabilidade e coragem sem arrogância.
Quais são seus planos para o estádio de São Januário? Há algum projeto imediato?
Eduardo Nery O projeto imediato é melhorar os serviços prestados ao torcedor. Inicialmente o clube deve trabalhar em conjunto com a prefeitura para melhorar o acesso ao estádio e as questões relacionadas a estacionamento e transporte público. Ao chegar, o torcedor deve ser atendido como um verdadeiro cliente, que precisa se sentir satisfeito para voltar outras vezes. As enormes filas, os banheiros sujos, a dificuldade de chegar a loja com produtos oficiais, farão parte do passado. Acreditamos que é possível transformar São Januário em referência de prestação de serviços, facilitando o acesso ao estádio com a implementação de leitores de cartão de crédito nas catracas: o ingresso é comercializado via internet através de cartão de crédito, que serve como ingresso no check-in, a melhoria na manutenção e limpeza dos banheiros também é fundamental, além do aumento na quantidade de pontos de venda de bebidas, alimentos e produtos oficiais do clube. Será desenvolvido um tour com visitação às dependências do estádio, incluindo campo, vestiário, sala de troféus, museu, capela, loja etc., nos moldes de River Plate, Barcelona Boca Juniors e outros, que permita a inclusão do tour na agenda turística do Rio de Janeiro.
Júlio Brant Nossa ideia é fazer a renovação do estádio, com um conceito moderno, novo no Brasil, com integração com a comunidade, lojas abertas ao público no dia a dia, independente dos jogos, para gerar receitas para o clube, inclusive. Precisamos resgatar nossa história e no novo projeto de São Januário, nossa ideia é ter um mega-museu destinado a contar essa história de glória, de alegria e de união da própria história do Brasil com a vida política do Vasco. Nossa ideia é que São Januário seja um ponto turístico, assim como Cristo Redentor, Pão de Açúcar.
Márcio Santos São Januário é uma joia que todos nós, vascaínos, temos orgulho. Seja pela magnífica história de sua construção ou pelo contexto histórico da época que desencadeou o processo que culminou no maior estádio do mundo até 1930, do Brasil até 1940, do Rio de Janeiro até 1950 e que segue sendo até hoje o maior estádio particular do Estado. Nosso objetivo com São Januário é uma melhora da acessibilidade, que passa obrigatoriamente por um escoamento do fluxo de trânsito de torcedores oriundos, principalmente, da Avenida Brasil. Simultaneamente a isso, iremos buscar a ampliação da capacidade do estádio para 50 mil pessoas. Temos duas opções, uma com o fechamento da chamada ferradura, com preservação da Capela de Nossa Senhora das Vitórias e da loja oficial, e outra com crescimento vertical do estádio em todos os setores, sem prejuízo do marco e tombamento histórico e cultural que possui, Há ainda nesse modelo, a manutenção do formato de ferradura, cujo espaço poderia ser aproveitado com a construção de camarotes na parte atrás do gol da piscina. Buscaremos que haja um meio-termo entre o tradicional e o moderno. Não vamos tomar decisão alguma como já disse, de formato da ampliação sem consultar os poderes do clube, os sócios e a torcida. Considero que o modelo da chamada Arena Independência, em Minas Gerais, é o que hoje mais se aproxima no Brasil do que considero o ideal. Buscaremos viabilizar essas obras, com a captação de recursos públicos e privados, sem abrir mão das receitas advindas do naming rights. Buscaremos ainda a exploração comercial, oriunda da visibilidade que o estádio terá em vários segmentos, dentre os quais o da Linha Vermelha por onde transitam diariamente milhares de pessoas de todas as regiões do Rio.
Roberto Monteiro A construção de São Januário foi um grande momento na história do Vasco. O estádio foi erguido com a força de torcedores e sócios. Em nossa gestão, São Januário terá sua estrutura ampliada para aumentar a capacidade de público. Também serão realizadas obras no entorno, em parceria com a prefeitura e o estado, para garantir melhor acessibilidade ao estádio. É preciso otimizar os espaços ociosos em São Januário, para melhorar as condições de trabalho dos empregados, jogadores e demais colaboradores. Queremos ainda viabilizar o estacionamento e implantar um centro de memória, com programação de visitas periódicas, como forma de divulgar a história do Vasco e sua importância na vida de brasileiros e portugueses.
Fonte: ESPN.com.br